Brasileiras do Mundo: Quando e por que você decidiu morar no exterior?
Romi: Decidi mudar para Europa por algumas razões: por não ver mais oportunidades na área em que trabalho - que é a área cultural no Rio de Janeiro, de onde venho - e também por querer mudar de "ares", conhecer lugares novos. Queria principalmente conhecer a terra dos meus ancestrais portugueses, então inicialmente fui para Portugal onde vivi por sete anos. Depois desse período me mudei para Sevilha, fiquei por lá mais ou menos uns quatro anos e em seguida vim pra Holanda, onde estou agora. No total estou há quatorze anos na Europa.
Vamos para Portugal com aquela sensação ilusória de que vamos ser mais aceitas, que seria mais fácil se integrar pelo fato de sermos países "irmãos" e falarmos a "mesma língua"- e não é bem assim.
BDM: Quais as maiores dificuldades que você encontrou no seu país de destino?
R: As maiores dificuldades que encontrei, começando por Portugal: o sentimento de exclusão. Vamos para Portugal com aquela sensação ilusória de que vamos ser mais aceitas, que seria mais fácil se integrar pelo fato de sermos países "irmãos" e falarmos a "mesma língua"- e não é bem assim. A Xenofobia se faz presente todos os dias, e aconteceu comigo mesmo eu tendo dupla nacionalidade. Brasileiros no Brasil e em Portugal sempre diziam "Ah, com documento vai ser tudo mais fácil pra você..." e não foi bem assim. Arrumar trabalho na minha área foi um desafio, então tive que ir arrumando empregos (alguns chamam de sub-emprego) para poder sobreviver. Cheguei a ter quatro empregos diferentes e mais as minhas performances artísticas, durante um período muito difícil em que meu parceiro na época estava desempregado.
Já na Espanha não foi tanto a Xenofobia, mas a questão de ser mulher e estar solteira. Fui para o Sul da Espanha onde a mentalidade é meio atrasada nesse aspecto. Lá também trabalhei na minha área - mas assim como em Portugal eu tive que arrumar trabalhos paralelos, sublocar meu apartamento no AirBnb e ficar na casa de amigos, etc - sem contar com performances de rua para complementar a renda. Pra mim o que pegava mais na Espanha era o machismo, assédio dos homens pelo fato de eu ser Brasileira, artista, solteira e jovem, abuso de proprietários de apartamentos por conta de eu ser mulher e latina, abuso de chefes dos locais em que trabalhei incluindo os ambientes culturais...
Na Holanda o processo tem sido menos difícil, não senti tanto a questão da Xenofobia nem do machismo, nada que se compare com as experiências que tive em Portugal e na Espanha. Fazer amizades aqui tem sido o maior desafio, as pessoas são bem mais distantes e desconfiadas, a amizade aqui é um processo.. acredito que em qualquer país da Europa, mas no norte é mais intenso. Não que eu tenha feito mil amigos na Espanha ou em Portugal, mas era mais fácil engatar uma conversa no supermercado ou num ponto de ônibus... aqui isso não acontece.
BDM: Quais são as coisas que você mais se orgulha?
Passei por diversas injustiças e mesmo assim não desisti e superei muitos desafios que nem todo mundo superaria... aliás eu nem sei como aguentei tudo isso!
R: Me sinto orgulhosa de ter passado por tantas situações desafiadoras. A falta de grana, a dificuldade de me inserir num mercado de trabalho artístico super competitivo, de ter sido sabotada por colegas de trabalhos e por alguns Brasileiros que fui conhecendo no meio do caminho. Enfrentei a depressão, sensação de exclusão, fui muito diminuída, invalidada, passei por diversas injustiças e mesmo assim não desisti e superei muitos desafios que nem todo mundo superaria... aliás eu nem sei como aguentei tudo isso! Mas tive apoio de pouquíssimos mas muito bons amigos, amigos de verdade que viraram minha família na Europa.
BDM: Dicas para mulheres que querem sair do Brasil?
Faça parte de grupos, faça um investimento num curso de idiomas ou qualquer outra coisa que te permita fazer parte de um grupo.
N: Se você vem sozinha como eu vim eu te diria para construir uma grande rede de contatos. Faça parte de grupos, faça um investimento num curso de idiomas ou qualquer outra coisa que te permita fazer parte de um grupo. Hoje com Facebook e Instagram tá mais fácil - na época em que cheguei, há 14 anos atrás essa facilidade não existia. Em grupos outras pessoas compartilham as experiências delas e você não se sente tão sozinha e isolada. Se você vem depois de conhecer o seu parceiro na internet, primeiro venha a passeio ou melhor ainda, peça que seu parceiro vá até o Brasil e passe um tempo com você para que vocês se conheçam melhor. Primeiro investigue, conheça! Por fim, faça parte de grupos de expats e Brasileiros - jamais se isole, pois em qualquer emergência alguém pode te ajudar.
A Romi está no Instagram como @romi_brasil_official.
* Todas as histórias publicadas aqui são reais e oferecidas pelas entrevistadas de forma voluntária. O Brasileiras do Mundo não se responsabiliza pelo conteúdo dos depoimentos.
コメント