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  • Foto do escritorCamila, @BrasileirasdoMundo

Thaís Pitombo, Inglaterra 🇬🇧

Brasileiras do Mundo: Quando e por que você decidiu morar no exterior?


T: Eu sempre soube que queria morar fora do Brasil por um tempo. Assim como a maioria das pessoas eu sempre gostei muito de viajar e, modéstia a parte, eu sempre fui boa em aprender línguas, então queria muito viver essa experiência de viver em um lugar com uma cultura diferente da minha. Por isso desde os meus 18 anos, quando comecei a trabalhar, eu passei a poupar dinheiro pra um dia cumprir esse propósito. Esse processo continuou até 2018 quando a crise econômica no Rio de Janeiro me pegou - na época eu trabalhava numa empresa que demitiu um número elevado de funcionários por estar tentando se adequar ao momento que o estado estava vivendo e eu infelizmente (ou felizmente) fui um deles. Como eu já trabalhava lá há um tempo, tirei um grana boa na rescisão e pensei: “A hora é agora”.


Mesmo que eu quisesse continuar no Rio, o mercado estava cada vez mais competitivo e tava na hora de me especializar e voltar pra faculdade - então por que não dar a cara a tapa e realizar um sonho antigo de estudar fora do Brasil? Corri atras de emitir a minha dupla cidadania - e por sorte eu tive o privilegio de uma família que me auxiliou muito nesse processo - e quando me tornei também portuguesa resolvi que vinha pra Europa. Fui pra várias feiras de intercâmbio no Rio de Janeiro, conversei com uma galera que havia feito mestrado no exterior e comecei a montar a minha lista de universidades dos sonhos. Eu me inscrevi pra várias e no final das contas passei pra todas e ainda pude escolher. Por me sentir mais confortável com a língua e ter ficado bem apaixonada pelo curso, resolvi fazer meu mestrado em marketing digital em Brunel University London e em setembro de 2019 eu me mudei pra Inglaterra.




BDM: Quais as maiores dificuldades que você encontrou no seu país de destino?


J: Me mudar pra Londres também significou sair da casa dos meus pais - então as dificuldades ja começam por aí. Eu tive que me adaptar a essa independência mais o choque cultural e aprender que a fartura de alimentos que nós temos no Brasil é imensa comparada com a Inglaterra, que aqui eles não dão muita importância a faxina ou gostam das coisas limpinhas como a gente e que seus vizinhos são bem menos extrovertidos. Teve uma situação especial em que eu me mudei - pro meu segundo apartamento na cidade - com alguns amigos e que os cômodos estavam muito sujos, com direito a muita poeira, bituca de cigarro no chão, folhas espalhadas pelo quarto, teia de aranha etc. Quando a gente questionou o estado do lugar, falaram pra gente que isso era um procedimento normal e que a gente podia devolver o apartamento no mesmo estado. Todo o processo de questionar/brigar pra resolver certa burocracias já é complicado, porque você não conhece as leis e nem a cultura do lugar direito. E não tem jeito, você só aprende vivendo mesmo. Quando eu me mudei eu escolhi um banco ruim, uma companhia telefone cara demais e fui morar num lugar super afastado do centro o que me atrapalhou pra arrumar um trabalho de início. Um ano e meio depois tudo isso mudou.


Apesar de ter morado a vida toda no Rio de Janeiro, que é uma cidade violenta, tinha vezes que eu me sentia mais desprotegida aqui pela imprevisibilidade das pessoas e do lugar.

Outra dificuldade, principalmente no inicio, foi a necessidade de zelar pela minha segurança de uma maneira intensa por não ter minha familia e amigos próximos por perto. Londres é uma das capitais mundiais de drogas ilícitas e tem muitas pessoas visivelmente viciadas que te abordam nas ruas. Apesar de ter morado a vida toda no Rio de Janeiro, que é uma cidade violenta, tinha vezes que eu me sentia mais desprotegida aqui pela imprevisibilidade das pessoas e do lugar. Em uma situação específica, eu estava com uma amiga no metrô e um cara claramente drogado começou a mexer com a gente. Eu fiquei ignorando e me fazendo de desentendida, até que eu percebi que ele tava com o celular apontado pra mim e parecia estar tirando uma foto minha. Quando ele percebeu que eu tinha visto abaixou o telefone, eu peguei minha amiga pelo braço e fui embora. O cara ainda levantou com a gente e foi nos seguindo até a gente ir para perto dos seguranças da estação.


Provavelmente se eu estivesse no Rio, mesmo que não fosse dar em nada, eu gritaria com esse homem e faria um barraco. Mas nesse dia eu fiquei com um medo real e só quis fugir.

Lidar com com pessoas de uma cultura diferente acho que foi mais um grande desafio. Acho que a maioria dos europeus que eu conheci - normalmente de países latinos ex Portugal ou Itália, ou do próprio Reino Unido - são menos extrovertidos/ alegres do que a gente que veio das Américas e às vezes soam até meio grosseiros/ mal educados pra gente. Isso foi algo que demorou pra eu internalizar que é o jeito deles e não um juízo de valor.


BDM: Quais são as coisas que você mais se orgulha?

J: Quando eu sai do Brasil eu tava muito frustada em relação ao nosso país. Já tinha algum tempo que eu tava me engajando em alguns movimentos socais e em trabalhar com coisas/pessoas que tivessem propósitos nos quais eu acreditava. Quando a nossa situação política começou a ficar do jeito que tá, eu fiquei muito sem esperança. Entrando nessa, eu abracei total o complexo de vira-lata de que as coisas são melhores na Europa e que lá não existe machismo, descriminação, etc. Hoje, já morando na Inglaterra há 1 ano e meio, eu penso completamente diferente. Com todos os nossos problemas, eu acho que muitos pensamentos que a gente carrega deixam os europeus no chinelo. A primeira coisa que me chamou atenção é como lá todos os povos tem rixas e preconceitos entre si - já que passaram muitos anos em guerra. A sensação que eu tinha era que todo mundo se odiava. Claro que não dá pra generalizar, mas eu não reconheço nem um pouco esse traço na nossa cultura. Desde que me mudei, todos os brasileiros, latinos e até norte-americanos que eu conheci pareciam - e o sentimento era recíproco - levar as nossas proximidades como um sentimento positivo e que nos aproxima.




A nossa cultura é tão linda e tão diversa. Várias aspectos culturais e lutas brasileiras me dão muito orgulho e eu sempre me pego contanto pros meus amigos gringos sobre. Eu, pessoalmente, gosto muito de música brasileira e parece que esse sentimento só se intensificou. Tiveram varias vezes que eu contei pra terceiros sobre como o Caetano foi exilado durante a ditadura militar e passou uns anos em Londres A mesma coisa sobre Carnaval - eu amo, e morro de saudades, do Carnaval no Rio. Sem surpresa, muitos amigos estrangeiros gostariam muito de conhecer. Sempre que alguém me pergunta, eu percebo que falo dessa época como se fosse o evento mais incrível de todo o mundo!


Respeite seus processos quando fizer essa mudança - que sim, é drástica pra todo mundo. Faz o que voce tiver vontade, na hora que voce tiver vontade, e não se culpe por isso.

BDM: 3 dicas para mulheres que querem sair do Brasil?

J: Acho que a primeira é respeite seu tempo/não faça nada com pressa, porque é super importante você se programar e pesquisar o máximo possível sobre o lugar. Lógico que nunca dá pra saber tudo - sempre vai ter um pepino, mesmo que pequeno, que você não tinha como prever. A segunda dica é - reparem, não é pra contradizer a primeira e sim pra equilibrar - quando vier aquela vontade/ instinto de “agora é a hora”, ignora qualquer medinho e só vai! Nós temos que seguir a nossa intuição, ela é muito mágica e sempre leva a gente pro caminho certo - nós mulheres somos deusas evoluídas e eu acredito 101% nisso. A ultima é: respeite seus processos quando fizer essa mudança - que sim, é drástica pra todo mundo. Faz o que voce tiver vontade, na hora que você tiver vontade, e não se culpe por isso. Pode parecer clichê, mas nós somos socialmente condicionadas a ter culpa pela nossa liberdade e muitas vezes a gente inconscientemente não se deixa aproveitar. Não seja essa pessoa, você merece!


* Todas as histórias publicadas aqui são reais e oferecidas pelas entrevistadas de forma voluntária. O Brasileiras do Mundo não se responsabiliza pelo conteúdo dos depoimentos.

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